(Fórum Arte pela Justiça Climática promove intercâmbio inédito entre convidados de mais de 20 países. Evento, em Belém, promove intercâmbio e dois dias de programação aberta ao público.)

(Fotos: Renata Aguiar)

Ao imaginar sua primeira viagem para a Amazônia, a artista africana Yara Costa não poderia supor o que encontraria. Pela janela do avião, ao chegar ao Brasil, não era possível enxergar a floresta.

Fiquei chocada: o Brasil está queimando. Do avião, eu não conseguia ver a terra, nem o céu: tudo era só fumaça”.

As queimadas recordes na Amazônia resultaram em 31 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) emitidos na atmosfera, segundo dados inéditos, obtidos com exclusividade pelo Jornal Hoje junto com o Observatório do Clima (OC), rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira.

O número considera o período de junho a agosto de 2024 e é equivalente às emissões de todo o Reino Unido em um único mês. Atualmente, o Brasil emite cerca de 2,3 bilhões de toneladas de gases, sendo o sexto maior emissor global.

Nascida em Moçambique, Yara, que é artista e ativista climática, desenvolve um trabalho sobre comunidades pesqueiras de tradição oral e como elas estão sendo afetadas pelas mudanças climáticas.

“A crise climática está acontecendo agora, está acontecendo no Brasil, está acontecendo na África”, declara Yara, que participa, em Belém, do Fórum Arte pela Justiça Climática e analisa as duras urgências que aproximam os dois continentes: as tensões socioambientais.

Nesta semana, o debate sobre crise climática envolve diferentes idiomas e contrasta realidades de diversos países em um intercâmbio inédito realizado na Amazônia. Até dia 21, artistas e ativistas de mais de 20 países se encontram na capital do Pará para o Fórum, que começou na segunda-feira (16), com imersão em lugares simbólicos para cultura e sociopolítica da região.

Aproximar experiências que utilizam a arte como ferramenta política e social diante da crise ambiental que na qual o mundo contemporâneo está imerso é justamente a proposta central do intercâmbio, conforme explica Priscila Cobra, uma das curadoras do evento.

“Queremos trazer o protagonismo para formas de resistência e de construção de justiça climática por meio de novas lógicas, formas não hegemônicas, descentralizadas, que buscam maneiras outras de sociedade para além do capitalismo predatório. Iremos promover essa troca com talentos e mentes de artistas e ativistas do mundo todo. E é muito importante que esse encontro ocorra na Amazônia, que é um dos territórios mais afetados pelas tensões ambientais. A ideia é conectar essas territorialidades com a nossa região”, diz Priscila, que é jornalista e carimbozeira afro-indígena de Icoaraci.

Artistas da Guatemala, Brasil, Porto Rico, Moçambique, Índia, Palestina, África do Sul, Equador, Colômbia, Egito, Argélia, Portugal, Angola, Malásia, Estados Unidos, São Martinho, Indonésia, China, Gana e Argentina se reunirão em vivências por diversos locais de Belém. A proposta para a etapa inicial do Fórum é introduzir os artistas à cidade, com suas complexidades, territórios e comunidades, desde o centro urbano até os bairros periféricos e as regiões insulares amazônicas.

G1/PA