(Maior parte dos crimes aconteceu dentro de casa e na capital. No ano de 2024, foram registrados 72 feminicídios.)

(Aliny, Antônia e Daiany estão entre as 66 vítimas de feminicídio no Tocantins em 2025 — Foto: Reprodução/Redes sociais)

Com os dois últimos feminicídios registrados na madrugada deste sábado (27) em Buriti do Tocantins, o estado chegou a 68 casos de mulheres assassinadas no contexto de violência doméstica. O número é 5,55% menor que o registrado em 2024, mas esse dado não conforta as famílias que foram destruídas e seguem em luto pelas perdas.

Muitas vítimas foram assassinada pelo próprio companheiro ou ex-companheiro, que não aceitaram o fim dos relacionamentos, geralmente marcados por situações de violência.

A maioria também acontece dentro das casas, onde deveria ser um lugar considerado seguro. Mas, de acordo com o painel estatístico sobre ocorrências de violência contra a mulher, da Secretaria de Segurança Pública (SSP), elas também estão sendo mortas em estabelecimentos comerciais, nas vias públicas e até em represas.

A designer de unhas Lilia Batista viveu em um relacionamento abusivo por dois anos. Entre as agressões que sofreu, temeu por sua vida e reuniu forças para sair de uma situação que nem todas as mulheres conseguem, seja por questões financeiras ou emocionais. Ela relembrou que, no começo, era tudo diferente.

“No início eu era a princesa da vida dele, ele me dava tudo. E de repente, quando eu não quis mais continuar um negócio que a gente tinha montado, ele não aceitou. Primeiramente começaram as agressões psicológicas. Depois, quando eu falava que não queria mesmo, ele começou a me espancar, do nada. Tentou me matar várias vezes”, disse Lilia.

Ela chegou a procurar ajuda em delegacias em outro estado, onde morava. Mas como não se sentiu segura e percebeu que não teria apoio das autoridades, mudou de estado e veio para o Tocantins.

“A delegada […] simplesmente ela me mandou ir embora para voltar para casa com a minha filha de 9 anos. Quando eu cheguei em casa eu fiquei com medo, porque ele pulou o muro, tentou arrebentar a porta e falou que eu iria pagar por tudo o que eu tinha feito com ele, que era para eu retirar a queixa. Mas eu não retirei, criei coragem, coloquei um ponto final e vim embora para o Tocantins”, explicou a designer de unhas.

Em um dos últimos casos de feminicídio registrados no estado, a vítima foi Maysa Rodrigues Fernandes Cardoso, de 35 anos. O suspeito do crime é o esposo dela, de 41 anos. A investigação do caso apontou que o homem ficou com o corpo de Maysa por 24 horas antes de enterrá-lo em uma área de mata, em Gurupi, no sul do estado.

A filha do casal, de 18 anos, chamou a Polícia Militar (PM) porque desconfiou do sumiço da mãe e da história contada pelo pai. O g1 não conseguiu contato com a defesa do suspeito preso.

Em Arraias, no sudeste do TocantinsAliny Pereira de Ornelas, de 25 anos, foi morta por Edivaldo Teixeira Chaves, de 36 anos. Ele tirou a própria vida após o feminicídio, segundo a investigação do caso.

Segundo informou a Secretaria de Segurança Pública (SSP), na época, familiares disseram que a vítima e o homem tinham se separado há cerca de dois meses, mas ele não aceitava o fim do relacionamento.

Ainda no mês de novembro, a técnica de enfermagem Daiany Batista de Carvalho, de 31 anos, foi assassinada a tiros em Figueirópolis, região sul do estado. Um homem de 38 anos foi preso dois dias depois do crime, suspeito de ser o executor. Ele afirmou que foi contratado por R$ 5 mil para matar Daiany.

O ex-vereador de Sandolândia, Genivaldo Mendes da Silva, de 47 anos, é suspeito de ser o mandante do assassinato. Ele também foi preso.

Antônia Taynara Sousa Silva, de 20 anos, é outra da vítima da violência contra mulheres. Em outubro deste ano, ela foi esfaqueada e morta na casa onde morava, em Esperantina. O companheiro, Francimar de Almeida da Silva, de 47 anos, foi preso pela Polícia Militar (PM), suspeito do crime.

Segundo apurado, ela sofria violência doméstica e até a família dela tentou afastá-la do homem, mas ele insistia no relacionamento e os dois acabavam voltando. Francimar é assistido pela Defensoria Pública Estadual (DPE), que, na época do crime, informou que não comenta decisões judiciais envolvendo julgamento de pessoas assistidas.

O g1 entrou em contato com a defesa de Genivaldo e de Francimar, que é atendido pela Defensoria Pública, mas até a publicação desta reportagem não houve resposta.

Dados sobre feminicídio

Conforme o painel de estatísticas sobre crimes contra a mulher, da SSP, dos foram 66 feminicídios registrados no estado até sexta-feira (26). Nos dados oficiais ainda não aparecem os dois casos registrados em Buriti do tocantins.

Segundo o levantamento, 34 assassinatos aconteceram em residências. Foram 12 crimes na zona rural, 11 na área urbana. Também foram registrados feminicídios em via pública, estabelecimento comercial e até em uma empresa.

A cidade com mais casos é Palmas (9), seguida de Gurupi (6) e Tocantinópolis (4). A maioria dos feminicídios aconteceu à noite, com 37 casos nesse período e 29 durante a manhã.

Novembro foi o mês com mais casos de feminicídio, segundo a estatística, com 10 mortes. Os finais de semana são marcados por mais crimes desta natureza, com 13 casos registrados aos sábados e 14 aos domingos. No ano de 2024, foram registrados 72 feminicídios.

Com informações de Patricia Lauris, Núbia Istela, g1 Tocantins